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vinicius castro
composer & producer
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Nesse momento da vida
Todo contato é essencial
Essencial
Todo contato é essencial
Num mundo conectado
Navegando e afogado em terabytes
5G, Fibra ótica,
E sites de pesquisa
Um mundo que precisa
De resposta instantânea
Like, tweet, fake news,
Viral de gato
Uma vida tão tacanha
Num mundo tão minúsculo de amor
Um círculo no seu computador
Fechando e abrindo as janelas
Um toque na pele, não na tela:
Nesse momento da vida
Todo contato é essencial
Um mundo programado
Algoritmanizado
Rede-socializado
Me adiciona
Um mundo que devora
Novidades da semana
Match, nude, snapchat, porntube
Uma vida tão tacanha
Pra um mundo tão sedento de amor
Um mar de gente no computador
Fechando e abrindo as janelas
Um toque da pele pela tela:
Nesse momento da vida
Todo contato é essencial
Essencial
Todo contato é essencial
Desde que o primeiro anfíbio
Desistiu do rio e foi se aventurar
Pelas terras, pelo ar
E o homo erectus resolveu se levantar
Desde que o raciocínio
Trouxe o domínio sobre a natureza
Desde a fogueira acesa
Até a pedra afiada para conquistar
Um amor e um lugar
Desde que os navegantes
Foram, triunfantes, retornar ao mar
Sei que é difícil conceber
Que seja essa a realidade
Mas todas as escolhas da humanidade
Me levaram pra você
E o efeito borboleta
Por todo planeta fez-se farfalhar
Duas guerras mundiais
E o encontro dos meus e dos seus pais
E dos pais dos nossos pais
E de todas gerações passadas
Dos antepassados
Desses ancestrais
Sei que é difícil conceber
Que seja essa a realidade
Mas todas as escolhas da humanidade
Me levaram pra você
E a nossa vida é como um relógio de areia
Com o passado afunilando até nós dois
E jorrando, do universo do seu ventre,
Tudo que vier depois
Quando seus olhos se abrirem, menina
Pela primeira vez
Que a vida se revele aos olhos nus
Seus olhos sejam prismas para a luz
E explodam a paleta
Do espectro visível
Ainda que seja, a princípio,
Incompreensível a luz
Quando a luz alcançar a retina
E o mundo nascer
Que a vida se desvele em vibrações
E pinte nos seus olhos tantos tons
Do vermelho ao violeta
Pra além do arco-íris
Ainda que sejam matizes
Incompreensíveis da cor
Vê o céu azul e rosa tão profundo
Vê o sol que irradia
Pra você, minha filha
Todas as cores do mundo
Mudar de ar
Mudar o que sempre se quis
Mudar de casa, de bairro
Mudar de cidade, mudar de país
Mudar de amor
Mudar de ideia
Mudar de tantas maneiras
Cruzar as fronteiras
Do que se sonhou
Mudar as respostas
Mudar as questões
Mudar a aposta
E apostar nas novas direções
Mudar
Mudar
Mudar
Quebrar a constância
E abraçar tudo aquilo
Que permanece igual na mudança
Gosto bem do topo da cidade
Onde a eletricidade dos cabos de força
Transporta o amor
Gosto da metrópole sem plano
No pulsar do centro urbano
Se forma a malha do meu coração
Gosto das antenas precisamente apontadas
Aparentemente para o nada
E das forças invisíveis
Que carregam imagens e sons
Gosto da cidade que nos guia
E da tecnologia que abarca a massa da população
Gosto das subidas e descidas
Da cidade expandida
Bueiro, andaime
Metrô, avião
Gosto do bramir da oportunidade
Da bem-vinda ironia da cidade
Gosto do zunir da velocidade
Da concreta sinfonia da cidade
Gosto do luzir da mocidade
Das chegadas e partidas da cidade
Haja culpa no cartório neo-católico
Haja praga e expiação
Haja pútrido prurido
E pudor mal resolvido
Haja censura nessa solidão
Haja vergonha do corpo
Nojo dos cheiros:
Estrangeiros de si mesmos, são
Haja distância entre o afã e o beijo
E haja inferno pra tanto desejo
Haja inferno pra tanto desejo…
E haja inferno pra tanto desejo
Haja inferno
Haja culpa embutida
Nos armários
Haja confessionário e verniz
Haja templo e mistério
Paz, amor e adultério
Haja sentença pra tanto juiz
Haja vergonha das curvas
Pinça pros pelos
Estrangeiros de si mesmos, são
Haja distância entre o tino e o teso
E haja inferno pra tanto desejo
Haja inferno pra tanto desejo…
E haja inferno pra tanto desejo
Haja inferno pra tanto desejo…
Qual é seu novo endereço?
Onde você foi morar?
Em qual lugar da memória eu padeço
Se eu quiser te encontrar?
Qual é seu novo telefone?
Onde sua voz foi parar?
Em qual lugar da memória insone
Eu posso te confessar
Que a saudade, sozinha,
É companheira sem par:
Um telefone sem linha
Num endereço sem lar
Qual é seu novo apelido?
Como é que eu vou te chamar?
Em qual lugar da memória, esquecido,
Está seu velho colar?
Qual é seu novo itinerário?
E se eu quiser passear?
Em qual lugar da memória eu caio
Se eu quiser confessar
Que a saudade, sozinha,
É companheira sem par:
Um telefone sem linha
Num endereço sem lar
T+(351) 915 734 490
estudioquintinha@gmail.com